quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Diário de um desconhecido #2

Acordo com o doce barulho da chuva batendo a minha janela, ainda sem memórias da noite passada tomo à mão uma xícara de café, quente. São dez da manhã e o telefone toca. Ao atender, sua voz ecoa com um suave timbre, parecendo uma arpa tocada suavemente por um anjo apaixonado. Você, sem meias palavras, objetiva e frustrada, me diz algumas palavras. Sinto-me como uma lagoa seca nos dias de verão, sem vida. O mar de possibilidades se extinguindo diante de suas palavras, ditas, expelidas, pensadas. Até o café, farto da temperatura que o rodeia, escorre aos estilhaços da xícara levada ao chão. Desligo o telefone e dirijo-me a janela, observando o céu cinza. As aves cinzas. Os carros cinzas. As pessoas sem faces, sem expressões e cinzas. Meu mundo perdeu a cor e deu lugar a dor.